Poupança x inflação é uma verdadeira disputa entre o rendimento do seu dinheiro e o aumento de preços geral do país.
Quanto mais os preços sobem, mais o investimento precisa render para compensar o índice de inflação e gerar algum lucro para o seu bolso.
Mas o que nós vemos nesse momento é exatamente o contrário: os juros caindo cada vez mais e derrubando a rentabilidade da poupança.
Então, quem será que está ganhando a briga entre poupança e inflação?
Leia até o fim e entenda por que chegou a hora de fugir da caderneta.
Poupança x inflação: qual a relação?
A relação entre poupança e inflação é uma das primeiras lições que você precisa aprender sobre investimentos.
De um lado, temos o investimento mais popular entre os brasileiros, graças à movimentação simples e segurança de poder sacar a dinheiro a qualquer momento.
Para você ter uma ideia, 88% dos investidores do país aplicam na caderneta de poupança, segundo a pesquisa Raio X do Investidor Brasileiro publicada em 2019 pela Anbima.
Do outro lado, está o aumento de preços dos produtos e serviços na economia, chamado de inflação e medido por índices como o IPCA e IGP-M (veremos em mais detalhes adiante).
Já tem algum palpite sobre a relação entre os dois conceitos?
É muito simples: a inflação afeta diretamente a rentabilidade da poupança e de outros investimentos de renda fixa.
Quanto mais os preços sobem no país, mais o investimento precisa render para superar a inflação e gerar algum ganho de fato para o investidor, como veremos a seguir.
Rentabilidade da poupança x inflação
Para entender a dinâmica entre poupança e inflação, você precisa saber como é calculada a rentabilidade desse investimento.
Desde 2012, o rendimento da poupança se baseia na Taxa Selic (taxa básica de juros da economia), seguindo as regras abaixo:
- Se a taxa Selic estiver acima de 8,5% ao ano, a poupança rende 0,5% sobre o valor depositado + Taxa Referencial (TR)
- Se a taxa Selic estiver igual ou abaixo de 8,5% ao ano, a poupança rende 70% da Selic + TR.
De acordo com a série histórica da Selic, publicada pelo Banco Central, a taxa de juros ficou acima de 8,5% pela última vez em julho de 2017 (9,25%), e desde então vem caindo até atingir a mínima histórica de 2% em agosto de 2020.
Já a Taxa Referencial foi criada nos anos 1990 para conter a hiperinflação no Brasil e está zerada desde 2017, também por conta da queda dos juros.
Logo, a poupança está rendendo 70% da Selic nos últimos anos — o que equivale a 1,4% ao ano com a Selic a 2% (setembro de 2020).
Isso significa que se você deixar R$ 1.000,00 na poupança por um ano, supondo que a Selic se mantenha assim, terá aproximadamente R$ 1.014,00 ao final da aplicação (R$ 14,00 de rendimentos).
A única exceção são as contas poupança abertas antes de maio de 2012, que têm os rendimentos da poupança antiga garantidos (0,5% ao mês + TR) — essas, sem dúvida, saem na vantagem com 6% ao ano de rentabilidade.
E qual é a inflação atual?
Agora que você sabe quanto a poupança está rendendo, vamos dar uma olhada nas projeções da inflação.
Toda segunda-feira, o Banco Central publica o Relatório Focus, que resume as estatísticas e projeções para índices de preços, câmbio, atividade econômica, Selic e outros indicadores importantes da economia.
Um dos dados divulgados nesse boletim oficial é a projeção da inflação para o ano atual e anos seguintes, atualizada semana a semana.
Vamos tomar como exemplo o relatório de 4 de setembro de 2020 — lembrando que os números mudam semanalmente —, que prevê uma inflação de 1,78% até o final de 2020.
O índice usado como referência é o IPCA, ou Índice de Preços ao Consumidor Amplo, que mede o aumento (ou queda) dos preços dos principais produtos consumidos pelas famílias brasileiras.
Então, esse resultado significa que os preços devem encerrar o ano com um aumento de 1,78%.
Agora vem a grande questão: se a inflação está em 1,78% e a poupança rende 1,4%, o que isso significa para o seu bolso?
Basicamente, quer dizer que a poupança vai perder para a inflação em 2020, ou seja, o dinheiro aplicado não vai nem conseguir acompanhar a alta geral dos preços do país.
E essa conclusão se torna ainda mais grave quando percebemos que o IPCA não reflete necessariamente os seus gastos mensais. Ou seja, a sua “inflação pessoal” pode ser bem maior.
Por que a poupança está perdendo para a inflação
A poupança e a inflação têm um equilíbrio delicado, que é diretamente afetado pela queda dos juros no país.
Obviamente, quando os juros caem, os rendimentos de todos os investimentos de renda fixa são puxados para baixo junto com a Selic.
Mas a caderneta de poupança é a que mais sofre com essa situação, pois outros produtos como títulos públicos e CDBs ainda pagam porcentagens maiores da Selic e CDI (taxa interbancária que segue de perto a Selic), por exemplo.
No cenário de setembro de 2020 que acabamos de analisar, o rendimento de 1,4% ao ano da poupança resulta em um retorno real negativo de -0,37% para o investidor.
Ou seja: o valor final de R$ 1.014,00 obtido com a aplicação equivale ao poder de compra de R$ 996,24 no início do investimento
Não é que você vai perder dinheiro nominalmente, mas vai comprar menos na hora do resgate do que poderia um ano antes com o mesmo valor.
O mesmo ocorreu em 2019, quando a poupança perdeu para a inflação e ficou com saldo negativo de -0,05%.
Mas é importante lembrar que não foi sempre assim.
Em 2016, por exemplo, a taxa Selic fechou em 14,25% (um dos maiores índices da história, fora do período de hiperinflação), a TR em 1,92% ao ano e a inflação em 6,29% — um retorno real de 5,6% para a poupança.
Nessa época, a poupança ainda oferecia um retorno positivo e não se tratava de uma aplicação tão danosa ao seu bolso quanto é hoje.
No entanto, em um cenário de juros baixos como o atual, o jogo se inverte e a poupança se torna o menos atraente entre os investimentos.
Afinal, não faz sentido deixar seu dinheiro aplicado em um produto que faz você perder poder de compra, concorda?
5 alternativas à poupança para superar a inflação
Agora que você entendeu a relação entre poupança e inflação, já pode buscar alternativas mais rentáveis para proteger o valor do seu dinheiro.
Confira algumas opções.
1. Tesouro Direto
O Tesouro Direto é o programa de títulos públicos do governo federal, considerado um dos investimentos mais seguros do país.
Se você quer uma opção para deixar sua reserva de emergência, por exemplo, o Tesouro Selic paga a rentabilidade da Taxa Selic (100%, em vez dos 70% da poupança) e possui a liquidez diária que você precisa.
Já o Tesouro IPCA é uma boa pedida para proteger seu poder de compra, já que sua rentabilidade é dada pela inflação mais uma taxa prefixada.
Mas atenção: não se esqueça de descontar o Imposto de Renda e a taxa de custódia (0,25% ao ano sobre o total que ultrapassar R$ 10 mil) nas simulações para ter certeza de que o investimento está superando a inflação.
Para fazer a comparação entre poupança e Tesouro Direto ou outros investimentos que contam com Imposto de Renda, basta lembrar do seguinte cálculo de equivalência:
70 / (1 - Taxa do IR / 100) = % do CDI (ou Selic) de Tesouro Direto ou CDB.
Considerando o máximo imposto cobrado nesses investimentos (22,5% da rentabilidade para resgates até 180 dias), você deve buscar títulos que paguem mais de 90% do CDI para que eles ofereçam rendimentos superiores à poupança.
E se quiser aplicar mais de R$ 10 mil em Tesouro Direto, vale a pena conferir a próxima opção.
2. Fundos de Tesouro Direto
Há diferentes fundos de renda fixa que investem seus recursos nos títulos do Tesouro e, assim, facilitam a aplicação de quem ainda se sente intimidado ao conferir tantas opções, taxas e regras.
Uma vantagem desse tipo de fundo é contar com taxa zero de administração em muitas corretoras.
Dessa forma, se você pretende investir mais do que R$ 10 mil e driblar a taxa de custódia do Tesouro Direto, esses fundos simples são opções mais rentáveis do que o investimento pelo programa do Tesouro.
3. CDBs
Os CDBs (Certificados de Depósito Bancário) que remuneram acima da poupança também são boas alternativas para quem busca liquidez e baixo risco.
Para que o título valha mais a pena do que a caderneta, ele precisa render mais do que 90% do CDI — o CDB Neon, por exemplo, rende de 95% a 101% do CDI dependendo do prazo de aplicação.
4. LCIs/LCAs
As Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio (LCI e LCA) são uma opção atrativa na renda fixa devido à isenção de IR.
No entanto, elas exigem uma aplicação mínima superior e têm prazos a partir de 90 dias — ou seja, não servem para quem pretende usar o dinheiro no curtíssimo prazo.
Se você puder deixar o dinheiro aplicado por mais tempo, existem LCIs e LCAs com rentabilidades muito superiores à poupança.
Para a comparação, nesse caso, basta lembrar que a poupança paga 70% da Selic e descobrir qual é taxa oferecida pela LCI ou LCA analisada.
Como Selic e CDI andam juntos, você pode considerá-los equivalentes nas suas contas.
5. Renda variável
Por fim, muitos investidores estão se aventurando na renda variável e encarando os riscos da bolsa de valores para fugir dos juros baixos e buscar ganhos acima da inflação.
De fato, a renda fixa de liquidez diária não está se mostrando vantajosa para quem busca retornos mais expressivos, e esse pode ser o momento de explorar melhor o mercado financeiro.
Se você pensa em seguir esse caminho, nosso guia para começar a investir na bolsa de valores pode ser um bom ponto de partida.
Mas, antes de começar a leitura, lembre-se: a renda variável não é uma substituta da poupança, e sim um componente importante em qualquer portfólio de investimentos.
Para encará-la, é preciso saber lidar com a volatilidade, ter visão de longo prazo e conhecer muito bem seu perfil de investidor antes de embarcar — além de manter uma boa reserva de emergência aplicada em segurança na renda fixa e contar com a devida diversificação em ativos menos voláteis.
Entendeu por que poupança e inflação andam juntas na análise de investimentos?
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